TRINTA ÍNDIOS DA ALDEIA JÁ TESTARAM POSITIVO PARA O VÍRUS.
Cacique Domingos Venite, de 69 anos, líder indígena Guarani Myba de Aldeia Guarani, em Angra, foi internado no CTI na terça-feira com Coronavírus. Ele está respirando com ajuda de aparelhos no CTI do centro de referência para tratamento de pacientes com Covid-19, montado dentro da Santa Casa. Ele é um dos 30 casos de Covid-19 confirmados pelos orgãos municípiais na aldeia indígena de Angra.
Segundo a prefeitura, ele apresentou os primeiros sintomas no dia 14 de junho.
Atualmente, cerca de 500 índios da tribo guarani vivem na aldeia Sapukai, que fica localizada a cerca de 6 km da BR-101 (Rodovia Rio-Santos), na região de Bracuí. A comunidade vive em uma área montanhosa cercada por Mata Atlântica..
O cacique e os outros diagnosticados estavam sendo acompanhados por uma equipe de saúde que atua diariamente na comunidade. A orientação, segundo os indígenas, foi que eles permanecessem isolados em casa.
Apenas Domingos evoluiu para um caso mais grave, sendo preciso o atendimento em um hospital. O cacique foi diagnosticado com o vírus há cerca de duas semanas, mas sua situação clínica piorou na segunda-feira, quando começou a sentir falta de ar.
O líder chegou a pensar em realizar uma “pajelança” — ritual em busca de cura, mas foi convencido a procurar ajuda antes disso.
O cacique Domingos foi o primeiro agente de saúde na aldeia Sapukai, ainda na década de 1990. Depois também trabalhou como motorista e se aposentou há pouco tempo. Com mais de 60 anos, Domingos é o dono de um dos três carros da aldeia, e por isso vai frequentemente ao centro de Angra, para fazer compras e levar outros índios até o banco para receber os benefícios governamentais que têm direito.
Em uma rede social, a prefeitura de Angra dos Reis publicou uma nota afirmando que o cacique “resistiu ao tratamento indicado pela Secretaria de Saúde, pois estava aguardando o término do ritual de pajelança”.
O município também afirmou que tem acompanhado toda a população da aldeia.
‘Sem doações, não teríamos comida’, conta liderança
O indígena e mestre em Linguística Algemiro da Silva contou ao GLOBO que no começo da pandemia muitos tiveram dificuldade de entender ou de acreditar que a doença chegaria na aldeia. Mas aos poucos a comunidade foi aceitando melhor e atualmente o dia-dia da aldeia está bastante afetado. A internação do cacique, segundo ele, assustou ainda mais os indígenas.
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— Demos a orientação para evitar alguns rituais e outras atividades que poderiam aumentar o contágio. Sabíamos que alguns precisam ir na cidade e poderiam levar o vírus para a aldeia. Mas a internação do cacique assustou a todos — conta.
Ele ainda explica a importância dos rituais para a cultura:
— Temos a pajelança na aldeia, tem danças, cantos, faz parte da cultura. Temos também o hábito de estarmos sempre juntos. Mas orientei a não fazerem mais e muitos seguiram. A maioria que pegou a Covid está se recuperando bem.
Algemiro ainda explica que a aldeia sobreviva muito da venda de artesanato voltada ao turismo. Com as medidas de isolamento social, os indígenas ficaram seu um dos maiores pilares de rendimento. Ele ainda critica a falta de apoio da Funai, que, desde março, enviou apenas 55 cestas básicas para as 100 famílias.
Foi montada então uma rede online para arrecadar doações para a compra de cestas básicas. Um grupo de WhatsApp foi criado para receber todos os comprovantes de doação, afim de dar mais transparência. Já são mais de 200 participantes. Nesta quinta-feira deve ser entregue a quarta leva comprada com o dinheiro arrecadado:
— Esta iniciativa foi muito bacana porque sem essa rede, não teríamos nenhuma comida na aldeia. Com o arrecadado conseguimos comprar o básico para sobreviver— conta.
Procurada na madrugada desta quinta-feira, a Funai ainda não se pronunciou.
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